Hoje é o setor do varejo que sente o maior impacto das demissões em massa, mas em pouco tempo muitos outros setores também poderão passar por isso
O setor varejista brasileiro enfrenta uma de suas piores crises em décadas, com demissões em massa que já atingiram mais de 35 mil trabalhadores e resultaram no fechamento de mais de 750 lojas em todo o país. Empresas icônicas como Americanas, Carrefour, Casas Bahia e Marisa, que por anos foram pilares do comércio físico, estão passando por reestruturações dramáticas para se adaptar a um novo cenário de mercado, marcado pelo avanço do comércio eletrônico e a concorrência de gigantes como Amazon, Mercado Livre e redes chinesas como AliExpress e Shopee.
A situação atual não é inédita, mas é a mais grave desde a falência de grandes varejistas como Mappin, Mesbla e G. Aronson nos anos 1990. A combinação de desafios financeiros, fraudes contábeis e a necessidade de readequação ao modelo digital são fatores que têm impulsionado as demissões em grandes redes. No entanto, apesar do panorama sombrio no varejo físico, a economia brasileira surpreende ao apresentar crescimento acima das expectativas, com alta de 12,4% no rendimento médio real dos trabalhadores, conforme revelam os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) do IBGE.
Ao analisar o gráfico da evolução da taxa de desemprego e do rendimento médio, nota-se uma queda significativa no desemprego, que caiu de 14,2% em 2021 para 6,9% em 2024, concomitantemente a um aumento no rendimento real médio dos trabalhadores. Esse cenário paradoxal, onde a economia cresce e ao mesmo tempo ocorrem demissões em massa no varejo físico, sugere uma migração do emprego para o setor de e-commerce, onde as condições de trabalho são frequentemente mais precárias. Vendedores em plataformas digitais, muitas vezes terceirizados e com menos direitos, têm substituído o comércio tradicional, o que agrava a precariedade do mercado de trabalho.
A UGT, em reunião realizada em Foz do Iguaçu nesta última semana (22 a 24), sob a liderança do Sindicato dos Comerciários, têm debatido os impactos dessas mudanças no emprego formal, alertando para a necessidade de uma análise cuidadosa do setor varejista. A crise das grandes redes de comércio físico pode ser vista como um problema setorizado, refletindo a incapacidade dessas empresas de competir com o e-commerce e a imposição de altos juros que afetam especialmente o comércio de bens duráveis e semiduráveis.
O presidente da FITIASP, Paulão, que esteve participando desta reunião em Foz, ainda destaca:
"De alguma forma todos nós, dirigentes sindicais e trabalhadores do setor do comércio sabíamos que isso iria acontecer, o exponencial crescimento do mercado de E-commerce aliado à falta adequada de regulamentação e fiscalização criou uma espécie de 'web terceirização' agressiva, onde a ideologia do lucro a todo custo faz com que o mercado online tenha vantagens absurdas em relação ao mercado físico. Diante disso, infelizmente, os trabalhadores e trabalhadoras que atuam no comércio acabam tendo mais uma vez os seus empregos em risco em prol do capital"
O fechamento de lojas físicas e a transferência para o comércio virtual não são apenas uma reconfiguração do setor, mas também um sinal de que as relações de trabalho estão mudando. É necessário um olhar crítico sobre essas transformações para garantir que o avanço tecnológico e a digitalização não resultem em um mercado de trabalho cada vez mais desumanizado e precarizado.
Para mais informações sobre o evento realizado em Foz do Iguaçu, clique aqui.
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